Uma questão que talvez inquiete quem ainda sonha com distribuição de renda no Brasil é se essa igualdade virá de uma revolução mais ou menos violenta, com desapropriações, derrubada das oligarquias, isto é, se virá com a ditadura do proletariado, ou se decorrerá de uma crescente política voltada para o social.
Em declaração recente, o candidato Plínio de Arruda (PSOL) entende que o governo Lula representa um atraso nas reformas sociais, uma vez que sua política social ameniza a situação dos miseráveis, criando um conformismo que leva à imobilidade. Lula representaria um neoliberalismo disfarçado de causa social, minimizando os problemas, trazendo uma falsa impressão de que as coisas andam bem, desmobilizando as massas e retardando uma possível reação.
A idéia central é que a repressão de um possível governo de direita acordaria o povo do que ele chama de ‘encantamento’ ou ‘hipnose’ causada pelo governo Lula. Trocando em miúdos, quanto pior, melhor.
A idéia seria genial se o brasileiro tivesse uma tradição de lutas, o que não parece muito convincente. O que me surpreende, ou pelo menos não fica muito claro, é que, como é de conhecimento de Plínio, o muro que nos separa de um socialismo não se resume às condições materiais de existência. Plínio não ignora que as oligarquias brasileiras dispõem de um poderoso aparelhamento ideológico. O controle da mídia pelas sete famílias forma e deforma tanto a opinião dos chamados universitários como também faz com que os próprios pobres tenham admiração por um presidente inteligente, que sabe falar bem. A verdade é que o pobre de hoje não quer mudanças, quer ascender. Ele não deseja grandes transformações se vislumbrar uma chance de “subir na vida”. Por isso, não consigo me convencer que um governo de direita seria desastroso o suficiente para dar início a uma reação popular.
Entre a hipnose causada pela imprensa golpista e a hipnose causada pelo programa bolsa-família, fico com a última. Com imenso orgulho e sem nenhum arrependimento votei em Plínio no primeiro turno porque concordo que o atual governo não vai promover nenhuma reforma significativa. Mas acredito que a reação do povo não será desencadeada por um governo desastroso, e sim por uma conscientização que, ao meu ver, só virá por uma educação comprometida. E se o caminho é a educação, ainda acho que o governo atual, aos trancos e barrancos, ainda consegue um resultado menos pior do que o governo anterior. Basta se perguntar qual governo vetou as disciplinas de Filosofia e Sociologia do Ensino Médio e qual governo as tornou obrigatórias na grade curricular. O resultado é risível, entretanto, o gesto é significativo.
E o cenário da eleição foi esse. A mídia reproduzindo as cartilhas do IPES/IBAD. Serra ressuscitando a marcha da “Família com Deus pela Liberdade”. O resultado disso é estarrecedor: “faça um favor a SP: afogue um nordestino”, comenta uma estudante universitária. Isso só convence de que, embora a esquerda não seja a esquerda que desejamos, o terreno é perigoso e não é momento de brincar com a direita.
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