A edição 51 (nov/10) da revista Carta na Escola apresenta entrevista com o prof. Dartiu Xavier sobre drogas e adolescência. Vale a pena a leitura na íntegra. Reproduzo, aqui, uma reflexão importantíssima sobre como as drogas estão intimamente ligadas aos valores que transmitimos aos jovens.
Certa vez, eu fazia uma palestra sobre drogas numa escola e discutia aspectos sociais e antropológicos da questão. Existe uma coisa na nossa sociedade que é o hedonismo, o culto ao prazer, à beleza, ao sucesso. Esse é o modelo que transmitimos a nossos filhos. Todos os pais esperam que os filhos sejam ricos, maravilhosos, inteligentes, etc. Não é humano, não é real. A vida não é assim. Provoquei a platéia: o único jeito de o jovem sentir o que a gente espera dele é cheirando cocaína! Por incrível que pareça, é exatamente isso que a intoxicação por cocaína te leva a sentir. É a única forma de os filhos atingirem as expectativs dos pais. É claro que isso eu digo de uma forma provocativa e jocosa, mas é para os pais pensarem um pouco o quanto eles estão conversando com os filhos sobre os fracassos e dificuldades deles. E não ficar apenas em um discurso de cobrança eterna. Tanto que a prevenção nas escolas, com palestras aterrorizantes sobre o perigo das drogas, não funciona.
(...)
O foco mais importante [na prevenção] não é mais evitar a primeira experiência com droga, mas o uso indevido, a dependência. Como se faz isso? Trabalhando a coisas que, aparentemente, não têm nada a ver com droga: autoestima. (...) Se esse adolescente estiver bem consigo mesmo, ele pode até mesmo experimentar drogas sem que necessariamente ele vá ficar dependente. Quem vai se viciar é aquele que está se sentindo o mais feio, o mais burro, o que não arruma namorada, e assim por diante.
Fica então uma provocação para pensarmos que valores estamos passando para as próximas gerações.
Sem comentários:
Enviar um comentário