sábado, outubro 08, 2005


Inversão de valores*

Existem vários fatores que estão por trás dos mais diversos tipos de problemas que enfrentamos no Brasil. Dentre eles poderíamos citar o ufanismo capitalista e a falta de compromisso social da educação.

Todos os dias as nossas casas são bombardeadas por propagandas extremamente abusivas e mentirosas. Colocam em nossas cabeças que a felicidade é andar na moda, usar uma roupa e possuir um tênis que 120 milhões de brasileiros não podem comprar. Ensinam que você pode ser uma pessoa sociável, bacana e descolada, saindo com seus amigos para curtir tomando uma cerveja, a que "desce redondo". Ensinam que a sua virilidade é mensurada pelo número de garotas que você consegue levar
para a cama, e que a sua liberdade é o poder que você tem de decidir se deve ou não usar drogas.

E assim, as instituições assumem uma postura totalmente passiva e procuram se adequar cada dia mais a essa tendência. Até mesmo a escola, que poderia mudar isso, passou a ser totalmente voltada para o mercado de trabalho. O seu conteúdo é amplamente direcionado para o vestibular, e assim não há um ensino comprometido com os interesses sociais. As crianças crescem em um ambiente preconceituoso e exclusivo e isso explica porque jovens de classe média ateiam fogo em um índio sem um mínimo de remorso. Não aprendem a olhar para os outros como pessoas que possuem a mesma estrutura orgânica e psicológica, mas como se fossem inferiores ou, no mínimo, diferentes.

Nós precisamos começar a perceber o perigo desses discursos e rever os nossos valores, questionando-nos, por exemplo, se é justo 9 milhões de brasileiros gastarem mais com lazer do que 52 milhões gastam com alimento. Imaginar quando os fabricantes de bebidas vão mostrar em suas propagandas o efeito do álcool no organismo e na família da pessoa. Se essa promiscuidade não está ligada às estatísticas de estupro ou gravidez indesejada, sendo que algumas resultam em aborto. É necessário desejar uma educação mais ética e humanitária, e quem sabe um dia, todos os seres humanos sejam vistos não como diferentes, mas pessoas que ainda que nasçam pobres, partilham dos mesmos sonhos, e têm as mesmas necessidades básicas, nutritivas e afetivas, e finalmente fazer valer o direito constitucional à igualdade.

Esse texto é resultado de uma conversa que tive com a minha amiga Ana Verônica, estudante de direito.

1 comentário:

Anónimo disse...

Oi Thi,
Gostei muito do que escreveu, pois retrata bem o "fetichismo da mercadoria" como diria meu ilustre professor de Sociologia José Soares. Beijos Vê