Jean Piaget nasceu em 9 de agosto de 1086 na pequena cidade de Neuchâtel, Suíça. Filho de um historiador e de uma mulher inteligente e dinâmica, com apenas 11 anos viu um artigo seu ser publicado em revista de história natural, aos 19 se tornou bacharel em Ciências Naturais e aos 21 era doutor em Filosofia e daí em diante passou a se interessar pela Psicologia chegando a trabalhar com Binet, que produziu o primeiro teste de inteligência. Observando os questionários, notou que havia uma relação entre os erros e o nível de idade das crianças, concluindo que a inteligência nas crianças não se difere em quantidade, mas em qualidade, ou seja, na maneira de pensar. Assim, rejeitou os testes padronizados em favor do método clínico, por ser este mais flexível. Foi convidado para dirigir o Instituto Jean Jacques Rousseau de pesquisas e seus estudos lhe renderam os primeiros livros. Algum tempo depois fora nomeado professor de Psicologia Genética na Universidade de Paris (Sorbonne), onde permaneceu até 1952, e ao mesmo tempo dirigindo o Instituto e lecionando também na Universidade de Genebra. Faleceu nesta cidade em 1980.
Conceituação
Piaget descreveu o aprendizado em acomodação e assimilação. A acomodação é o ajuste do organismo para lidar com o ambiente, se preparando para uma nova experiência e a assimilação é o processo em que o objeto é transformado se tornando parte do organismo. Podemos compreender melhor fazendo uma analogia com a digestão. Ao ingerir um alimento, os músculos do aparelho digestivo se contraem, expandem-se e liberam certos ácidos para lidar com o alimento (acomodação). Quando o alimento é transformado fazendo parte do organismo ocorre a assimilação. Dessa forma, quando uma criança acostumada a andar de velocípede se propõe a andar de bicicleta, prevalecerá a acomodação, mas se ela já sabe andar de bicicleta e desejar andar em uma bicicleta diferente da sua, bastará a assimilação. À tendência de sistematizar e ordenar esses processos em sistemas coexistentes Piaget dá o nome de Organização. A adaptação se refere a um equilíbrio entre acomodação e assimilação.
O esquema é um padrão que comportamento que orienta a relação entre o indivíduo e o meio e são constantemente modificados e reorganizados. Os esquemas que se apresentam inicialmente no ser humano são os chamados reflexos, isto é, são aqueles instintivos, como a sucção. Ao conjunto de esquemas denominamos Estrutura.
Epistemologia
Piaget segmenta a aprendizagem em algumas etapas que embora não sejam precisas de um aspecto etário, a sua seqüência é invariável. São esses estágios o Sensório-Motor, Pré-Operatório, Operatório Concreto e Operatório Formal.
1. Sensório-Motor – de 0 a 2 anos
Esse estágio é assim denominado porque as experiências da criança são limitadas às percepções sensoriais. Até o primeiro mês a criança é restrita aos reflexos e hábitos inatos, como o choro, respiração e sucção. Do primeiro ao quarto mês o toque físico permite as primeiras manifestações e o reconhecimento do ambiente. Seria o período de Reação Circular Primária, pois a criança tende a repetir os comportamentos que lhe são agradáveis, como levar a mão à boca, e tem suas primeiras noções de espaço, tempo, causalidade e permanência. O bebê ainda não conserva o objeto, ou seja, quando sai de seu campo perceptivo é como se não mais existisse.
As reações circulares secundárias se diferem das primárias porque o bebê já abrange as suas experiências a objetos fora do corpo, como manipular objetos, ocorrendo do quarto ao oitavo mês. Do oitavo mês ao primeiro ano de vida a criança já aplica as formas conhecidas para resolver situações novas. São as Coordenações de esquemas secundários, onde a originalidade da criança consiste em combinar os esquemas antigos para obter os resultados, mas não inventa novos esquemas. Na fase de Reações circulares terciárias (um ano a um ano e 7 meses) a criança joga, por exemplo, objetos no chão, provocando reações diferentes, simplesmente para satisfazer sua curiosidade, experimentando novos comportamentos. O período compreendido do décimo oitavo mês até o segundo ano marca o Início do simbolismo. É a transição para o pré-operatório e começa a usar de símbolos mentais e palavras para referir aos objetos ausentes. Início da linguagem.
2. Pré-Operacional – 2 a 6 anos
A capacidade simbólica se desenvolve. Podemos descrever esse período em termos negativos, no sentido de mostrar as tarefas que a criança ainda não resolve. Definido pela incapacidade de pensar em termos de operações. Caracterizam esse intervalo o egocentrismo (incapacidade de se colocar sob o ponto de vista de outrem), a centralização (leva em conta apenas uma dimensão), não é capaz de juntar condições sucessivas, de uma transformação, por exemplo, numa totalidade, o desequilíbrio (predomínio das acomodações sobre as assimilações), a irreversibilidade (incapacidade de reverter processos), o raciocínio transdutivo (pensa somente do particular para o particular), o realismo (tendência de achar que todas as coisas são reais), animismo (atribui vida a objetos inanimados) e antropomorfismo (atribui características humanas aos animais, plantas, etc). Para esclarecer, se dentre alguns brinquedos se pergunta à criança qual está mais próximo dela, ela provavelmente acertará, mas se perguntado qual o mais próximo de outra pessoa, indicará o mesmo, pois não consegue analisar o ponto de vista do outro (egocentrismo). Se de dois copos com a mesma quantidade de líquido, o conteúdo de um deles fosse despejado em outro recipiente adquirindo outra forma, ela acreditará que a quantidade também se alterou, pois não consegue levar em conta que as formas se compensam (centralização) e nem atentará para o fato de que retornando o conteúdo ao copo anterior se chega à conclusão definitiva de que a quantidade permaneceu inalterada (irreversibilidade).
3. Operações concretas – de 7 a 11 anos
Marcado por um aumento nas assimilações, que conduz ao equilíbrio. Nesse momento a criança já consegue pensar em composição (o produto da combinação de dois elementos também será um elemento do mesmo grupo), associatividade (entende associações como ABC com ACB), Identidade (capacidade de compreender a transformação numa totalidade, mantendo a identidade de um elemento, água em gelo, por exemplo) e reversibilidade. Também já é capaz de classificar elementos indutivamente, podendo agrupá-los e ordená-los em séries.
4. Operações formais – a partir dos 12 anos
Evidencia a habilidade de pensar em termos formais (abstratos), formular hipóteses e testá-las sistematicamente. Desenvolvem-se as operações formais e proposicionais como o raciocínio sustentado no conhecimento físico e em hipóteses lógicas. Incorporam-se idéias abstratas e ideológicas.
Embora a teoria de Piaget seja de notável repercussão, ela recebe críticas de estudiosos do ponto de vista metodológico, por causa da ausência de definições operacionais para seus conceitos, como estruturas, assimilação, esquemas, acomodação, equilíbrio e outros. Também é criticado pelo uso do método clínico, pois tira suas conclusões dos casos sem divulgar uma análise estatística de dados, ou seja, pela falta de rigor. Daí o fato de não ter nos Estados Unidos a mesma receptividade que teve na Europa. Ainda assim, é reconhecido pelo grande valor de suas idéias, no mínimo como hipóteses a serem testadas com maiores critérios.
Referências Bibliográficas:
BIAGGIO, ANGELA M. BRASIL. PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO. 4. ed Petrópolis: Editora Vozes, 1976.
COUTINHO, M. T. C. & MOREIRA, M. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO: um estudo dos processos psicológicos de desenvolvimento e aprendizagem humanos, voltado para a educação: ênfase na abordagem construtivista. Belo Horizonte: Lê, 1992 (pp. 81-138).
Um filósofo: é um homem que continuamente vê, vive, ouve, suspeita, espera e sonha coisas extraordinárias (Nietzsche)
quarta-feira, outubro 12, 2005
sábado, outubro 08, 2005
Inversão de valores*
Existem vários fatores que estão por trás dos mais diversos tipos de problemas que enfrentamos no Brasil. Dentre eles poderíamos citar o ufanismo capitalista e a falta de compromisso social da educação.
Todos os dias as nossas casas são bombardeadas por propagandas extremamente abusivas e mentirosas. Colocam em nossas cabeças que a felicidade é andar na moda, usar uma roupa e possuir um tênis que 120 milhões de brasileiros não podem comprar. Ensinam que você pode ser uma pessoa sociável, bacana e descolada, saindo com seus amigos para curtir tomando uma cerveja, a que "desce redondo". Ensinam que a sua virilidade é mensurada pelo número de garotas que você consegue levar
para a cama, e que a sua liberdade é o poder que você tem de decidir se deve ou não usar drogas.
E assim, as instituições assumem uma postura totalmente passiva e procuram se adequar cada dia mais a essa tendência. Até mesmo a escola, que poderia mudar isso, passou a ser totalmente voltada para o mercado de trabalho. O seu conteúdo é amplamente direcionado para o vestibular, e assim não há um ensino comprometido com os interesses sociais. As crianças crescem em um ambiente preconceituoso e exclusivo e isso explica porque jovens de classe média ateiam fogo em um índio sem um mínimo de remorso. Não aprendem a olhar para os outros como pessoas que possuem a mesma estrutura orgânica e psicológica, mas como se fossem inferiores ou, no mínimo, diferentes.
Nós precisamos começar a perceber o perigo desses discursos e rever os nossos valores, questionando-nos, por exemplo, se é justo 9 milhões de brasileiros gastarem mais com lazer do que 52 milhões gastam com alimento. Imaginar quando os fabricantes de bebidas vão mostrar em suas propagandas o efeito do álcool no organismo e na família da pessoa. Se essa promiscuidade não está ligada às estatísticas de estupro ou gravidez indesejada, sendo que algumas resultam em aborto. É necessário desejar uma educação mais ética e humanitária, e quem sabe um dia, todos os seres humanos sejam vistos não como diferentes, mas pessoas que ainda que nasçam pobres, partilham dos mesmos sonhos, e têm as mesmas necessidades básicas, nutritivas e afetivas, e finalmente fazer valer o direito constitucional à igualdade.
Esse texto é resultado de uma conversa que tive com a minha amiga Ana Verônica, estudante de direito.